Escrito por: Sávio D. S. Zanon
Este museu conta com centenas de peças anatômicas reais reunidas desde sua criação na década de 1960, sob a gestão do prof. Dr. Renato Locchi. Desde 2024, o primeiro inventário completo, nunca antes feito na história do museu, está em andamento para catalogar oficialmente o que é cada peça, quem preparou, quando preparou e qual técnica de preparo anatômico foi utilizada. A peça mais antiga ainda em exposição é um estômago preparado em 1966 por Diolindo da Conceição de Souza, um dos primeiros técnicos da Disciplina de Anatomia da EPM, que utilizou a técnica de desidratação com terebintina associada à injeção de resina salmão para destacar a forma e a vascularização do órgão.
Além das peças expostas, o Museu de Anatomia Humana Prof. Dr. Renato Locchi possui uma reserva técnica com centenas de peças, cujo número exato não é conhecido atualmente. As peças da reserva técnica também serão inventariadas. A estimativa é de que a coleção total deste museu alcance ~1000 peças.
Atualmente, as peças anatômicas são conservadas pelo técnico da Disciplina de Anatomia Descritiva e Topográfica da EPM, Anderson Pereira. Este museu não possui verba própria para manutenção. O edifício histórico onde está instalado, Ed. Leitão da Cunha, é mantido pela diretoria do Campus São Paulo, da UNIFESP, e não há orçamento fixo para a manutenção do acervo.
Fetos em diversas fases da gestação, peças infantis, distúrbios do desenvolvimento e anomalias: 75
Aparelho Locomotor: 115
Aparelho Urogenital: 64
Sistema Cardiovascular: 93
Sistema Digestório: 29
Sistema Nervoso: 96
Sistema Respiratório: 36
Anatomia comparada
Partes de esqueletos de anfíbios, aves, mamíferos e répteis: 28
Para obter informações detalhadas sobre as peças, entre em contato com o responsável: Prof. Dr. Luís Otávio Carvalho de Moraes | luis.otavio@unifesp.br
Fixação com formol: destrói bactérias e fungos para retardar a decomposição do cadáver, também dá firmeza e preserva a forma dos órgãos.
Desidratação com terebintina: expulsa água, retarda a decomposição e confere flexibilidade à peça.
Método de Giacomini (Glicerinação): retarda a decomposição, confere flexibilidade e evita ressecamento da peça.
Injeção e corrosão: destaca forma e localização de vasos sanguíneos e linfáticos, removendo com ácido todos os tecidos não preenchidos pela injeção de resinas ou metais.
Diafanização com diversas substâncias: confere transparência às peças para observar forma da peça e estruturas internas sem dissecar.
Preparo anatômico de esqueletos
Maceração → remove outros tecidos para estudar apenas os ossos, por imersão em água
Limpeza fina (manual): Remoção da pele, musculatura e periósteo utilizando bisturi e escovas de plástico.
Maceração química: imersão em solução de água e 1% a 2,5% de hipoclorito de sódio (NaOH) ou hidróxido de potássio (KOH). Alguns autores sugerem bicarbonato de cálcio (Ca(HCO₃)₂) 7%. É utilizada água quente (~60°C). Pode causar alterações morfológicas nos ossos. Mais rápida que a maceração em água pura.
Maceração por digestão: imersão em solução com enzimas proteolíticas. Geralmente causa desarticulação dos ossos. Mais rápida que a maceração em água pura.
Maceração com articulações naturais: para preservar as articulações do esqueleto, pode ser pincelada periodicamente terebintina sobre as articulações.
Obs: a maceração pode ser feita com água quente ou em temperatura ambiente. A água deve ser trocada com frequência. Pode ser usada solução de amônia para clareamento.
Diafanização → confere transparência à peça
Iniciada com a descalcificação dos ossos. Podem ser utilizados ácidos como HCl e HNO₃.
Pode ser necessário desidratar os ossos com álcool para a coloração.
Substâncias frequentemente utilizadas: formol, etanol, xilol, hidróxido de potássio (KOH), peróxido de hidrogênio (H2O2).
Fases da diafanização de ossos (Rodrigues, 2010):
Fixação → preserva a morfologia e retarda a decomposição
Clareamento → retira pigmentos
Descalcificação → remove a matriz extracelular inorgânica
Desidratação → remove água
Desengorduramento → remove lipídios da medula óssea
Parafinização → conserva e aumenta resistência dos ossos
Imersão em parafina líquida seguida de secagem em estufa.
Desarticulação dos ossos do crânio → separa as suturas cranianas
Inchação: introdução de objeto expansível dentro do crânio pelo forame magno. Frequentemente causa ruptura de ossos e não é capaz de separar todas as suturas.
Separação com instrumentos: afastamento manual dos ossos com escopros, cinzéis, estiletes e prensa de carpinteiro. Processo lento para evitar fraturas.
Preparo anatômico de membros ou vísceras
Fixação → retarda decomposição e preserva morfologia
Substâncias frequentemente utilizadas: formol, álcool etílico (etanol), glicerina e fenol.
Para fetos e pequenas peças, também pode ser utilizado etanol 70%.
A grande maioria das peças do museu foi fixada utilizando solução aquosa com 10% de formol (100ml de formol + 900ml de água por litro de solução).
Imersão em glicerina simultaneamente ou após banho de formol evita o ressecamento dos tecidos e confere flexibilidade.
Injeção de substâncias fixadoras nas artérias para que sejam distribuídas por todo o corpo é chamada de embalsamento e prepara os cadáveres para a dissecção.
Obs: O formol, ou formalina, é uma solução aquosa saturada de aldeído fórmico a 40% de ácido fórmico (CH₂O₂). Contém, também, 10 a 15% de metanol (CH₃OH).
⚠️Formol é cancerígeno e irritante por inalação e por contato.
Injeção → destaca forma e localização de vasos sanguíneos e linfáticos
Substâncias injetáveis presentes no museu:
Substâncias que solidificam: Injetadas quentes, solidificam por resfriamento a temperatura ambiente após injeção (ex: gelatina, parafina, ligas metálicas).
Substâncias que não mudam de estado: São injetadas líquidas e permanecem líquidas (ex: mercúrio).
Substâncias que polimerizam: Injetadas líquidas e se tornam firmes por reação de polimerização (ex: látex, silicone, acrílico, vinilite e outras resinas polimerizáveis).
Se a injeção é apenas para preencher o vaso e facilitar sua dissecção, costuma-se usar gelatina.
Se a injeção é para diafanização, gelatina ou mercúrio podem ser utilizados para contraste.
Se a injeção é para o estudo detalhado dos vasos, geralmente são utilizadas resinas polimerizáveis. → A maioria das peças com injeção neste museu foi preparada com essa técnica.
Nos preparos com injeção, artérias costumam ser coloridas de vermelho e veias, de azul.
Após a injeção, a peça pode ser imersa em solução de ácido (como HCl) para dissolver todos os tecidos, restando apenas o molde dos vasos preenchidos com a injeção. Isso é chamado de corrosão.
⚠️Mercúrio tem alta toxicidade e potencial de bioacumulação, por isso está caindo em desuso.
Diafanização → confere transparência à peça
Precedida por fixação, geralmente com formol 10%, e desidratação, geralmente com concentrações crescentes de etanol 70% até absoluto.
Substâncias frequentemente utilizadas: sulfato de bário, água oxigenada (H₂O₂), benzol, benzoato de benzila.
Glicerinização → retarda a decomposição, confere flexibilidade e evita ressecamento da peça.
Método original de Carlo Giacomini (séc. XIX):
Injeção ou imersão em cloreto de zinco 20% (ZnCl₂);
Imersão em etanol;
Imersão em glicerina
Na última década, outras substâncias têm sido testadas visando a diminuição de toxicidade e riscos aos anatomistas, diminuição do potencial de danos ambientais, melhora da preservação do cadáver por controle do pH, ação antioxidante, entre outros. (ex: agentes de reticulação (cross-linking), antioxidantes, umectantes)
A maioria das peças em exposição no museu está imersa em solução de formol 10%.
BRENNER, Erich. Human body preservation – old and new techniques. Journal of Anatomy, v. 224, n. 3, p. 316-344, Maio, 2014. DOI: 10.1111/joa.12160 . Disponível em: https://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1111/joa.12160 . Acesso em: 5 set. 2025.
RODRIGUES, Hildegardo. Técnicas anatômicas. 4. ed. Vitória: GM Gráfica e Editora, 2010. 269 p.
Conheça também o Museu de Crânios da UNIFESP. Sua visitação é restrita e seu acervo é disponibilizado apenas para pesquisa: